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O Que O Mito De Sísifo Pode Nos Ensinar Sobre A Vida E O Suicídio?

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Em meio às reflexões do Setembro Amarelo, que coloca em foco a importância da prevenção ao suicídio, é interessante olharmos para o que a filosofia tem a nos dizer sobre o sentido da vida e a luta contra o desespero. Uma das histórias mais marcantes nesse cenário é o mito de Sísifo, reinterpretado pelo filósofo Albert Camus.

SÍSIFO E A LUTA CONTRA O ABSURDO

No mito, Sísifo é condenado pelos deuses a empurrar uma pedra até o topo de uma montanha, apenas para vê-la rolar de volta toda vez que chega ao cume, num ciclo sem fim. Para Camus, essa história simboliza a condição humana: estamos sempre buscando um propósito, mas, muitas vezes, nos deparamos com o “absurdo” — a falta de sentido da vida. A grande questão que ele levanta é: “Se tudo parece tão sem propósito, por que continuar vivendo?

Essa pergunta pode parecer chocante à primeira vista, mas ela vai ao coração de muitos dos sentimentos que levam as pessoas a pensar no suicídio. No entanto, Camus oferece uma resposta inesperada. Para ele, a verdadeira coragem está em aceitar esse absurdo e, ainda assim, continuar. Ele nos convida a “imaginar Sísifo feliz” – não porque sua tarefa mudou, mas porque ele aceitou sua condição e encontrou beleza na própria jornada.

A PERDA DO ESPANTO E O TÉDIO DA VIDA MODERNA

Outro filósofo que explora essa questão é Vilém Flusser. O autor discorre sobre a perda do “espanto” diante do mundo. Antigamente, tudo era novo, misterioso e emocionante, mas hoje, com a vida tão acelerada e cheia de informações, perdemos essa capacidade de nos surpreender. Isso nos deixa muitas vezes entediados, sem perspectiva e sem vontade de continuar. Para Flusser, o tédio é uma das grandes causas da desesperança e pode ser um gatilho para o suicídio.

ENTÃO, POR QUE CONTINUAR?

Se olharmos para o mito de Sísifo e as reflexões de Camus e Flusser, vemos que a vida, com todas as suas dificuldades e momentos de desesperança, não precisa ser uma prisão. A chave está em encontrar sentido nas pequenas coisas, mesmo quando a grande resposta parece escapar. Pode ser uma conversa, uma obra de arte, uma paisagem que você já viu mil vezes, mas que, de repente, parece diferente.

Flusser nos propõe a ideia de que a arte pode ser um caminho para redescobrir o espanto. Quando criamos ou apreciamos arte, estamos conectando nossa humanidade com algo maior, algo que nos leva além do tédio e da monotonia. A arte nos faz sentir vivos de novo, nos lembra de que há beleza e mistério no mundo, e que talvez valha a pena ficar por aqui um pouco mais para explorá-los.

No fim das contas, o mito de Sísifo não é apenas uma história sobre sofrimento eterno, mas também sobre a possibilidade de encontrar sentido, mesmo nas tarefas mais repetitivas e aparentemente inúteis. Assim como Sísifo encontra beleza nas montanhas e no mar, podemos encontrar significado em nossas próprias vidas, mesmo que o caminho seja difícil.

O Setembro Amarelo é um convite para refletirmos sobre o sentido da vida, sobre nossas dores e esperanças. Tanto Camus quanto Flusser nos lembram de que o sentido não está pronto, esperando para ser descoberto. Nós o criamos a cada dia, nas pequenas escolhas que fazemos, nos momentos em que decidimos continuar, mesmo quando tudo parece difícil. Que possamos, como Sísifo, encontrar felicidade no caminho.

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